2023-09-25

Tudo Acontece por Uma Razão

A vida de Kate Bowler, autora do livro «Tudo Acontece por Uma Razão», mudou aos 35 anos quando recebeu o diagnóstico de cancro em estádio avançado. Há um antes e um depois. E, felizmente para Kate, o depois ainda continua a acontecer.

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Mas Tudo Acontece por Uma Razão é o oposto de tudo o que se podia esperar de um livro de memórias sobre a experiência oncológica. Não é a habitual história de superação, de aprendizagem ou demonstração de que «aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes». Pelo contrário, o que quase nos mata, descobre Kate Bowler, torna-nos mais fracos, mais vulneráveis e incapazes de negar a realidade da finitude humana. Este livro é, na verdade, um memento mori; a história de uma mulher que, no auge da sua vida, se viu obrigada a confrontar-se com o seu possível fim. Como muitas pessoas de 35 anos, não é que Kate pensasse ser imortal, mas comportava-se como se o fosse: fazia planos para o futuro, deixava coisas para o dia seguinte, estava sempre ocupadíssima. Mas, ao contrário de muitas pessoas de 35 anos, era já doutorada e uma respeitável docente de História da Religião com um livro publicado. A sua especialidade é a história do chamado Evangelho da Prosperidade, a crença teológica segundo a qual Deus mostra o Seu favor através de bens materiais, e de que, se tivermos fé suficiente, Ele nos dará tudo o que pedirmos. Subjacente a esta ideia está uma certa positividade tóxica, a ideia de que o pensamento positivo tudo pode – e tudo cura. Depois do seu diagnóstico, e ao longo do tratamento, Kate percebe até que ponto este Evangelho e esta crença estão difundidos no senso comum – a julgar pela quantidade de gente que lhe diz, com as melhores intenções, que ela tem de ter fé, de pensar positivo, de estar sempre animada, que não há mal que por bem não venha… e, sim, que tudo acontece por uma razão. Mas se Tudo Acontece por Uma Razão, que possível razão de ser terão todas as pequenas e grandes coisas terríveis que nos acontecem? Este livro é uma reflexão profunda, mas cheia de humor, sobre a mortalidade, a positividade tóxica, a natureza da fé e da esperança, e sobre a legitimidade de mandar a um certo sítio pessoas que dizem lugares-comuns a quem está a sofrer!